sexta-feira, 6 de março de 2015

Sorte vem , sorte vai...

@eduardo_thadeu



                                                          O dia tinha sido extenuante , enfrentar o trânsito de São Paulo e com chuva, tem que ser herói , Darcio é taxista faz os trajetos na quarta maior cidade do mundo, seu turno de trabalho sempre acaba as 19hs, na madrugada não arrisca mais, já foi assaltado duas vezes e da última levaram o carro que é de frota, seu celular e até suas roupas , ele ficou só de meias em pleno inverno na Serra da Cantareira, com uma temperatura amena de 9 graus.                      

                                                          Vinha ele descendo a Consolação , quando um homem de preto carregado de bolsas e malas , e que escondido da chuva num posto de gasolina acena , ele para , seria sua última viagem, o  passageiro com  sotaque estranho pede para ir ao Aeroporto de Cumbica, voltaria pra Frankfurt , era  bem falante,  no trajeto contou um pouco da sua rápida estada no Brasil, estava no CRM- Conselho Regional de Medicina vizinho ao posto onde foi apanhado, sua mulher hoje morando na Alemanha após sofrer uma cirurgia de implante de prótese de silicone nos seios,  ficou inteiramente deformada, e eles processaram o cirurgião que naquele dia tinha sido advertido apenas com uma suspensão do CRM, disse que estava desapontado e que não voltaria mais ao Brasil , nem ele nem sua esposa. 


                                                         Apesar de não falar corretamente o português, o alemão era bom de papo, contou das alemãs, que sentia falta de uma boa praia por lá e de um sol como o do  nosso pais, e que gostava das brasileiras ,por isso tinha casado com uma, a corrida chegou ao final , ele desembarcou com pressa , o voo saia em  quarenta minutos, pagou , se despediu e Darcio rumou pra casa.                 

                                                         No dia seguinte , descobriu uma mala preta atrás do banco do carona,  aquela munida de cadeado com segredo, mas sem abrir não poderia identificar de quem era,  então com uma faca afiada de quebrar coco verde, arrombou a valise e quase caiu de costas, muitos dólares e relógios dourados, talvez de ouro, pensou , e eram , ainda assustado queria devolver, mas pra quem? Não tinha nome, documento nenhum , entrou com a maleta  debaixo  do braço, sua intenção era esconder,  mas onde? Com duas filhas em casa seria dificil, pensou muito e colocou  em um compartimento embaixo do forno do fogão, sua mulher não fazia bolos a tempo,  e o  frango  ele mesmo trazia  pronto da padaria, era o lugar perfeito.                   

                                                       Naquele dia saiu pelas ruas com  um sorriso  que estava dificil disfarçar, estava rico, a sorte finalmente lhe sorriu, e sem que ele fizesse nenhum esforço pra isso, um verdadeiro presente  dos céus, se achava naquele momento um predestinado, um escolhido,  não via a hora de chegar em casa e  contar quanto na verdade tinha ganho do destino, no fim do turno parou o carro, e nem bem entrou em casa ouviu  gritos da esposa brigando com uma das filhas, isso era comum, perguntou o que ela tinha aprontado , e a mulher disse "Vai lá ver na cozinha o que essa capeta fez"  Vanessa de 9 anos tinha resolvido brincar de dona de casa com as amiguinhas e sem que a mãe visse , ensaiaram fazer uma pizza no forno de verdade, ele ao se deparar com o que sobrou do fogão não sabia se chorava ou se matava a filha , ou os dois ao mesmo tempo, da maleta escondida nem os números do cadeado sobraram intactos, PT foi perda total, além do dinheiro queimado o prejuízo com um novo fogão. E Darcio foi rico por algumas horas e nem sequer teve tempo de desfrutar dessa riqueza. Um homem de sorte... mas nem tanto                        


                                                            táxi ! táxi !

                                             
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