Aquela velha frase batida e já cansada "Quando se deseja muito algo, o Universo conspira a favor" parecia longe da realidade de Everaldo , por mais que desejasse uma mudança pra melhor na vida nada acontecia, e definitivamente não foi por falta de tentativas, era como um atacante em fase de poucos gols que chutava todas pra frente não importava a distância ou quem estivesse em melhores condições de arremate, a preocupação chegou a tal ponto que frequentou desde o terreiro da Mãe Barbina ao tempo da Seicho no ie , queria encontrar uma saída e rápido, mas as poucas portas que se apresentavam estavam fechadas a sete chaves.
Ainda não havia parado pra dimensionar o tamanho do problema que viria pela frente, sua namorada grávida iria parir nos próximos dias, e certamente muito mais despesas; consulta com pediatra, fraldas , enxoval e desempregado vivendo de alguns bicos tudo parecia ainda mais complicado, o orgulho talvez fosse o grande entrave de uma situação que beirava o limite, pedir ajuda para os parentes seria como assinar um recibo de incompetente e isso definitivamente sua vaidade não permitia .
Quando o celular tocou naquele início de tarde, imaginou que fosse alguma empresa onde havia deixado seu histórico , mas a ligação avisava que seu filho tinha acabado de nascer, e foi em casa e de parto normal, a ambulância demorou e Dona Custódia a vizinha fez o papel de parteira e com muita eficiência segundo os comentários, se comportou como uma verdadeira profissional, na rua Everaldo não sabia se agradecia por aquele momento ou se olhava pro céu e lamentava profundamente sua existência e a absoluta falta de sorte, mas o destino tem uma forma de atuação e um tempo diferente do nosso, voltando para casa ainda desorientado com a noticia, vê uma pasta de executivo como que escondida atrás de uma lixeira, ninguém por perto ele resolve leva-la , não teria como abri-la na rua, era daquelas de segredo com números, com mais calma entre intrigado e cauteloso ao ver o conteúdo da mesma se espanta , muitos dólares e cheques, nenhum nome ou documento de identificação, talvez fosse possível localizar o dono da pasta através dos cheques emitidos, mas preferiu não arriscar e ficou com os US$ 17.000 , lembrou como dizia sua avó "Achado não é roubado", os cheques que perfaziam um total de mais de 80 mil reais preferiu jogar fora , afinal não era o cara mais sortudo do mundo , mas bem longe de ser o mais imbecil
sorte é sorte