O rádio foi invadido a um tempo atrás e graças ao FM, a um estilo novo de comunicação, na verdade muitos de nós éramos só uns pós adolescentes com a voz um pouco mais encorpada e já fazendo sucesso , chegamos até a ter Fã Clubes, isso pra alguém com 18 , 19 anos pesa , de uma hora para outra ser reconhecido pela voz por um motorista de táxi ou simplesmente conversando na rua é o reconhecimento máximo da repercussão de um trabalho. A história a seguir é verídica e aconteceu com um querido colega e em uma das Fms mais ouvidas de São Paulo, apesar de te-lo visto várias vezes depois do terrível acontecimento, nunca entrei em detalhes para não colocar o dedo na ferida, o que será reproduzido a seguir com uma dose de licença poética do autor, é o que se comentava nos bastidores.
O telefone não parava eram ouvintes querendo a sua música favorita , ou interessados em saber quando iria acontecer a próxima promoção, numa época ainda bem distante da WEB e do celular , o telefone fixo era o meio do ouvinte se expressar, e essa participação era de importância extremada, a programação musical era moldada por ele, quem ouvia era o grande diretor, por isso o sucesso indiscutível , mas tinham as ouvintes, eram mulheres de todas as idades que se deixavam levar por uma voz , e criavam um rosto para aquela companhia diária , Isabela era só mais uma entre milhares de meninas sonhadoras que ouviam e seguiam seu locutor favorito.
As conversas se prolongaram durante semanas, ela de um lado criando uma imagem, o o apresentador do outro imaginando também , até que resolveram se ver, o horário noturno com a emissora praticamente vazia era o ideal , sem ninguém da produção por perto e a pessoa mais próxima era o porteiro do prédio, a andares de distância , câmeras de monitoramento como se tem hoje nem em filme de ficção científica. A ouvinte que tinha virado uma namoradinha por telefone tinha acabado de chegar, ao entrar no estúdio e se deparar com o dono da voz que embalava suas fantasias talvez tenha se decepcionado mas não demonstrou , ela pelo contrário estava além das expectativas do speaker , tinha no máximo 20 anos, cabelos lisos e negros como uma índia e um rosto desenhado.
Entre cartuchos de comerciais, lps e compactos, nosso herói do microfone não via a hora de ter um tempo livre com as mãos para se ocupar do monumento que estava na sua frente sorrindo, teve uma ideia que lhe custaria caro , a música do Stevie Wonder "Ribbon in the sky" uma das mais pedidas tinha quase 6 minutos de duração , tempo suficiente para uma subida com a ouvinte deslumbrante para o heliporto do prédio, e quem sabe ali levar a menina as alturas, literalmente, e tendo como cenário a Avenida Paulista. Depois da vinheta a longa canção entrou no ar, e correndo os dois subiram pelo elevador já estrategicamente a espera no andar, não demorou para aquele heliporto ver cenas nunca antes vistas , além de muito interessante a ouvinte sabia das coisas, a brincadeira que tinha duração prevista de no máximo 5 minutos já havia passado dos 8 , e quando se lembrou nosso locutor entre esbaforido e desesperado notou que a emissora estava em silêncio a um bom tempo afinal a música tinha terminado , o telefone imediatamente toca, era o coordenador que queria saber o motivo da estação ficar fora do ar mais de 8 minutos, a alegação que tinha sido uma queda do transmissor não pegou, o led vermelho de estéreo do rádio do chefão não apagou , na segunda feira uma conversa mais detalhada com o porteiro de plantão e o relatório veio completo, se descobriu que uma linda ouvinte subiu no mesmo horário do ocorrido, apesar de ser um dos líderes de audiência , o tropeço do comunicador não foi perdoado. a única palavra que lhe foi dirigida "Traga sua carteira de trabalho amanhã para dar baixa" .
visão do paraíso
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